sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Piripiri - Vozes da Cidade


O nome dele é Antônio Bispo da Conceição, mas aqui em Piripiri ele é mais conhecido como Frei Pio. Hoje com 82 anos bem vividos, dedicados a fé cristã católica. Sem dúvida alguma, o nosso Frei Pio faz parte do patrimônio vivo piripiriense.

Frei Pio. Foto: Hélcio Ferreira
Conheça sua história de vida neste documentário que produzimos em fevereiro de 2011 quando ainda estávamos no site vejapiripiri.com.

O documentário Piripiri – vozes da cidade, através de uma reflexão crítica cultural, com a captação de sons e imagens, pretende dar aos piripirienses, natos ou de coração, a possibilidade de imprimir suas vidas na História da cidade, guardando para a posteridade os mais diversos relatos vividos. Já temos diversos entrevistados em pauta para 2013. Aguardem.

Veja o documentário clicando no link abaixo:
Vozes da cidade - Frei Pio

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

O Testamento do Padre Freitas – Uma análise histórica.



Segundo um dos ramos da história chamado de teoria da história, uma das formas de se analisar os comportamentos sociais ao longo do tempo pode ser a análise de testamentos. Padre Freitas morrera em 1868, mas redigiu em 1862 seu testamento. Hoje para nós, o mais importante documento histórico da cidade dentro do gênero, mas caindo no esquecimento junto com boa parte da memória da cidade.
Reafirmando nosso compromisso de explicar um pouco mais sobre a história de nossa cidade iremos comentar detalhadamente o testamento presente nas obras da historiografia piripiriense, mas sem a minúcia a qual nos pretendemos. Escrito em seis laudas, este documento é de uma riqueza em detalhes que vão além das vontades pessoais do testador, alcançando a compreensão da mentalidade da sociedade elitista brasileira do século XIX. 

Até o século XVIII, a boa elaboração do testamento era uma conduta de garantia da salvação, resquícios da mentalidade medieval. Durante os séculos XVIII e XIX, observamos uma gradual transição neste processo, pois ainda permanecia como ato religioso, mas agora também deveria ser certificado pela lei dos homens com o registro oficial.

Via de regra, estes documentos quando preparados nos meados do século XIX eram divididos em uma parte com cláusulas religiosas e outra contendo as cláusulas materiais. Era iniciado com a invocação da Santíssima Trindade: “Jesus Maria José – Em nome da Santíssima Trindade Padre, Filho e Espírito Santo Amém”.

A temporalidade registrada deveria estar ligada à religião:

...Saibam quantos este público instrumento de Testamento virem que sendo no Ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e sessenta e dois, aos cinco dias do mês de Novembro...”.

 Em seguida, temos a identificação do testador: “Eu Padre Domingos de Freitas e Silva...”. Indicando suas questões pessoais, desde a sanidade mental, fundamental para a veracidade jurídica do documento, sua ascendência legítima, naturalidade, estado civil, domicílio e filhos. No século XIX, a hora da morte era ocasião única, solene e crucial, onde a falta da verdade era ato impraticável.

“...em casa de minha morada estando com perfeita saúde, e em uso meu perfeito juízo[...]Declaro que sou natural da freguesia de Nossa Senhora da Graça da Cidade da Parnaíba[...]filho legítimo de Domingos de Freitas Caldas e de Rita Maria de Almeida[...] e sou presbítero secular, canonicamente ordenado neste supracitado bispado”.


A nomeação das divindades mediadoras da “boa morte” também se fazia necessária:
Primeiramente encomenda minha alma a Santíssima Trindade, que a criou, e rogo ao Eterno Padre a queira receber, assim como recebeu a de eu Unigênito Filho, quando expirou na cruz; a Maria Santíssima peço e rogo seja minha intercessora e advogada; ao santo do meu nome, e a todos os Santos da corte celestial, e como verdadeiro e fiel cristão protesto viver e morrer nesta Santa Fé...”

Os testadores também nomeavam os testamenteiros, geralmente eleitos em meio aos familiares diretos:
“Nomeio para meus Testamenteiros em primeiro lugar a Domingos de Freitas Silva Júnior, e em segundo lugar a Raimundo de Freitas Silva, meus filhos...

O testamento precisava para ser válido judicialmente, da assinatura de determinadas testemunhas e do reconhecimento do tabelião. Judith Santana em “Piripiri” afirma à pág 17, que o presente testamento foi contemplado pelo escrivão Miguel Antônio da Rocha Lima onde testemunharam os senhores Francisco Zabulon de Almeida Pires, José Coriolano de Souza Lima, Major Simplicio Coelho de Rezende e Antônio Lopes Castelo Branco.

Segundo o Historiador George Duby: “Mais do que a morte, nossos ancestrais temiam o Juízo Final, a punição do além e os suplícios do inferno”  pois a boa morte asseguraria a vida eterna, fazendo parte desta mentalidade o acerto de contas, pagamento de dívidas, doação de esmolas, encomendações de missas e orações bem como também, os cuidados normas de organização das pompas do funeral:

...Meu corpo será sepultado na Capela de Nossa Senhora dos Remédios, ereta a minha expensas caso faleça neste lugar de Piripiri por mim fundado; meu enterramento será feito com acompanhamento de meus irmãos Sacerdotes, que existirem no lugar. [...]No dia de meu enterro darão meus Testamenteiros trinta mil réis de esmolas aos pobres, que acompanharem o meu corpo a sepultura; com igualdade, e mandarão dizer a missa de Corpo presente, por minha alma pelos sacerdotes...” 

Nos oitocentos, mesmo sendo a prática de composição de testamentos relacionada aos grupos abastados da população, era possível localizar a presença de elementos das camadas populares, como por exemplo, os escravos que de forma indireta participam recebendo benefícios diversos, onde os testadores reconheciam este ato como de extrema caridade:

“...O escravo José deixo liberto na metade de seu valor, e a escrava Tomázia deixo liberta em remuneração de ter criado ao meu herdeiro Antonio Francisco...”

Mesmo concedendo a alforria a alguns cativos, a mentalidade escravocrata do período é bem presente:

“Declaro que meus filhos herdeiros Domingos, Raimundo, Freitas Júnior, Antonio Francisco e Amélia Clemência, todos tiveram um escravo que herdaram por parte de sua mãe[...]Declaro que possuo os escravos seguintes: José Nação Angola – Camilo cabra – Antonio criolo – Samuel cabra – Jonas cabra – Tomázia criola...”

Outro fator bem marcante dos testamentos dos anos oitocentos eram as dívidas relacionadas ao moribundo, demonstrando o caráter material, se fazia necessária à exposição e distribuição dos bens móveis e imóveis do testador no pós-morte, o detalhamento de gestos benevolentes e também a distinção entre credores e devedores.
Padre Freitas em seu testamento cita ações recebidas por sua pessoa:

“[...]declaro que estudei, e ordenei-me a custa de meu padrinho de batismo o reverendo Henrique, o qual fez todas as despesas por equidade, e benevolência a meu benefício, por isso nenhuma despesa fiz a meus pais...”. Também cita ações realizadas a seus familiares de sangue: “declaro que mandei buscar para minha companhia minha irmã Catarina de Sena e sua filha Matildes e quatro filhas de minha finada irmã Maria Rita da Silva por estarem em extrema necessidade...e que as quais sustentei de comida e vestuário até casar, dando-lhes a cada uma cem mil réis...”.

Outra ação de Padre Freitas que nos chamou atenção em seu testamento diz respeito a sua preocupação com a educação de duas de suas enteadas, pois àquela época era bastante comum, o analfabetismo entre as mulheres:

Declaro que eduquei e casei Lucinda Rita e Joana Paula...ambas filhas da finada Lucinda Rosa de Sousa, mãe de meus herdeiros e ambas dotei com dotes suficientes, bem como escravos, gados ouro e prata...”

Os testamentos não raramente, eram utilizados como última oportunidade de acertar contas, reconhecer e indicar dívidas, que certamente não acabariam junto com os suspiros do testador, pelo contrário, farão parte da herança transferida aos familiares:

 “[...] Declaro que o Capitão Antonino Ferreira de Araújo e Silva, morador na Cidade da Parnaíba me é devedor da quantia de cento e setenta e quatro mil réis...”.

Nem mesmo os colegas do eclesiástico, mesmo já falecidos escaparam da lembrança:

 “[...] O finado vigário da supradita Cidadão Domingos Rodrigues Chaves ficou me devendo quatrocentos e tantos mil réis de resto de uma morada de casa que comprou-me na mesma cidade...”.

Nos séculos iniciais da colonização portuguesa do Brasil alguns utensílios domésticos eram objetos raros usados somente em grandes ocasiões. No Piauí do século XIX, esses objetos eram considerados muito refinados, faziam parte apenas do requinte de algumas famílias de elite, merecendo ser enumerados em testamentos e inventários como parte da herança:

 “[...]declaro que possuo obras de prata, sendo castiçais em manga de vidro, jarro, bacia, copo, salva, talheres, um cálix, e caixa dos Santos Óleos, com relíquias dentro da mesma, e uma caixa de tabaco de ouro...”

Na conclusão dos testamentos vinham invocações para que fossem cumpridas de acordo com as leis dos homens as realizações necessárias:

 “[...] e rogo as Justiças de Sua Majestade Imperial e Constitucional de um outro foro e a façam cumprir...e declaro por esta minha última vontade, por mim feito, reassinado, e em meu perfeito juízo perante as testemunhas...Povoação de Piripiri do Termo de Piracuruca dez de Novembro de mil oitocentos e sessenta e dois. DOMINGOS DE FREITAS E SILVA”.


Percebemos aqui que estes documentos demonstram a mentalidade do homem oitocentista, onde a morte fazia parte do seu cotidiano. Este testamento que analisamos, está de acordo com os modelos de sua época. Sendo mais uma peça na complexa engrenagem da história do Brasil, e uma peça fundamental para a História de Piripiri.  


Bibliografia:
ARIÈS, Philippe. História da morte no ocidente. 2. ed. Lisboa: Stampa, 1975
ARIÈS, Philippe O homem diante da morte. v. II. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977
REIS, João José. A morte é uma festa. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.
MELLO, Cléa Rezende Neves de. Memórias de Piripiri – Brasília s.n. 2ª Ed. 2001.
REIS, João José. O cotidiano da morte no Brasil oitocentista”  in história da vida Privada vol.2 ed Companhia da Letras, São Paulo.
SANTANA, Judith Alves. Piripiri.1972.






O Testamento do Padre Freitas


Segue abaixo, a transcrição completa do testamento do Padre Freitas, reproduzido na íntegra de acordo com a grafia da época. Ele está presente nas obras de Judith Santana "Piripiri" e "O Padre Freitas de Piripiri"  e "Memórias de Piripiri" de Cléa Rezende.

“Saibam quantos estes público instrumento de Testamento virem que sendo no Ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e sessenta e dois, aos cinco dias do mês de novembro do dito ano, nesta povoação de Nossa senhora do Carmo do Termo de Piracuruca, Província do Piauí, Bispado de São Luís do Maranhão – Eu, Padre Domingos de Freitas e Silva, em casa de minha morada, estando com perfeita saúde, e em uso de meu perfeito juízo, que Deus foi servido dar-me, temendo não porém a morte por não saber o que o mesmo Senhor de mim determina, e quando será servido pasar-me desta vida, determinei-me fazer este meu Testamento da forma e maneira seguinte – Primeiramente encomendo minha alma a Santíssima Trindade, que a criou, e rogo ao Eterno Padre a que queira receber. Assim com recebeu a de seu unigênito Filho quando expirou na Cruz; a Maria Santíssima peço e rogo minha intercessora e advogada; ao Santo do meu nome e a todos os Santos e Santas da Corte Celestial, e como verdadeiro e fiel Cristão protesto viver e morrer neta Santa Fé. Nomeio para meus Testamenteiros, em primeiro lugar, a Domingos de Freitas e Silva Júnior, e em segundo a Raimunda de Freitas e Silva, meus filhos, todos de maioridade, os quais por serviço a Deus e a mim mercê rogo queiram aceitar serem meus Testamenteiros, benfeitores e administradores, com livre e geral administração, cada um in solidum,  para meus bens tomarem conta, dispor, arrecadar e vender, o que necessário for para gosto do meu enterro, satisfação dos meus legados, e mais que preciso para o que dou todos os poderes, que em direito  possam e me é concedido, tendo um ano para cumprirem minha disposições e darem suas contas, e se este tempo não for bastante, terão mais um ano, e como tais os hei abonado, e assim peço e rogo a Justiça de Sua Majestade Imperial e constitucional. Mande cumprir e guardar, verbo ad verbum, passar esta minha última vontade, de modo que neste meu Testamento se contém – Declaro que sou natura da Freguesia de Nossa Senhora Da Graça da cidade da Parnaíba, Província do Piauí, Bispado de São Luis do Maranhão, filho legítimo de Domingos de Freitas Caldas, e de Rita Maria de Almeida, ambos falecidos sou presbítero secular, canonicamente ordenado neste supradito bispado. Declaro que estudei e ordenei-me à custa de meu padrinho de batismo o Reverendo, Henrique José da Silva, já falecido, o qual fez todas as despesas por equidade e benevolência a meu benefício por isso, nenhuma despesa fiz a meus pais, dos quais unicamente herdei por sua morte a quantia de trezentos e quarenta e oito mil, seiscentos e vinte réis, por parte materna, da paterna nada herdei por não haver mais nada. Declaro que logo que faleceram meus pais, mandei buscar para minha companhia, minha irmã, Catarina de Sena e Silva, viúva, e sua filha, Matildes, quatro filhas de minha finada irmã, Maria Rita da Silva, casada com Brás José Muniz, também falecido, que são:  Rita, Durçulina, Bernarda e Cândida, as quais mandei-as buscar para minha companhia por estarem em extrema necessidade, o que aconteceu em mil oitocentos e trinta. Deste este tempo sustentei-as de comida e vestuário até casar, dando-lhes a cada uma cem mil réis, em moeda e roupa, e a minha irmã Catarina, sustentei de um tudo até terminar os seus dias, cujo falecimento foi no dia três de dezembro de mil oitocentos e sessenta, estando em minha companhia a mais de trinta anos. Declaro que éramos quatro irmãos, sendo eu, Bernardo de Freitas Caldas, Maria Rita da Silva, casada com Brás José Muniz, e Catarina de Sena e Silva, viúva, de cujo matrimônio não lhe ficou filho. Herdamos por morte de nossa mãe, em amigável composição, por sermos todos emancipados, a quantia de trezentos  e quarenta e oito mil, seiscentos e vinte réis, cada um, cujo papel de composição existe em meu poder, assinado por meu pai e os quatro herdeiros. Declaro que meus irmãos Bernardo e Maria, além de suas legítimas (partes) que igualmente tiveram, ficaram alcançados de dívidas, como se vê nos documentos que tenho em meu poder, e como morressem falidos de bens, fiquei prejudicado em ambas as partes, e para maior segurança exigi desistência dos herdeiros dos meus referidos irmãos, e além de seus alcances me ficaram devendo dinheiros que por vezes lhes emprestei, como se vê nos documentos que guardo em meu poder; alem disso, eduquei, sustentei e casei as filhas de minha irmã, Maria Rita. Declaro que meu irmão Bernardo só teve uma filha, e esta nunca se casou, morreu em estado de solteira, e nada herdou por seu pai morrer falido, que por este motivo perdi a minha dívida e alcance da parte da legítima, que estava obrigada a repor-me, o mesmo aconteceu com minha irmã, Maria Rita. Declaro que meu pai sobreviveu alguns anos, depois da morte de minha mãe, por isso gastou alguns bens que possuíam, e assim sendo, o supri até terminarem os seus dias e a última despesa fiz com seu enterro. O mesmo aconteceu com meu mano Bernardo seu cadáver foi sepultado na Matriz de Piracuruca. Meu corpo será sepultado na Capela de Nossa Senhora dos remédios, ereta a minhas expensas, caso faleça neste lugar de Peripery, por mim fundado; meu enterramento será feito com acompanhamento de meus irmãos sacerdotes, que existirem no lugar, e mais pessoas do mesmo, e a todos se dará sessão como assentarem meus Testamenteiros. No dia do meu enterro darão meus Testamenteiros trinta mil réis de esmolas aos pobres, que acompanharem meu corpo a sepultura, com igualdade, e mandarão dizer a Missa de Corpo Presente, por minha alma, pelos sacerdotes que houver no lugar se não houver nesse dia, mandarão fazer ofício de Corpo presente, por minha alma no trigésimo dia do meu falecimento. Os meus irmãos sacerdotes que vierem assistir, todos dirão Missa por minha alma e só lhes darão a oferta de mil réis, por ser de corpo presente. Nesse dia, se dará de esmolas aos padres que vierem, vinte mil réis, com igualdade. Mandarão meus Testamenteiros dizer duas Capelas de Missas por minha alma, mais duas por intenções particulares de algumas que não apliquei e desencargo de consciência; mandarão dizer mais meia Capela, pelas almas de meus pais domingos de Fretas caldas e Rita Maria de Almeida; vinte e quatro missas pelas almas dos meus irmãos, José, Bernardo, Rita e Catarina, sendo seis para cada um; mandarão dizer mais meia Capela de missas pela alma do reverendo Henrique José da Silva, sendo dez para cada uma. Declaro que criei uma Capela sob o título de Nossa Senhora dos Remédios, toda ela feita a minha custa, com ornamentos e sino, uma posse de terras de vinte mil réis, cujos objetos doei à mesma Senhora, ficando a Capela dentro do povoado, que é hoje denominado “Peripery”, sendo este também fundado por mim, cuja posse de terras se acha demarcada igualmente, e as despesas feitas, consequentemente, ficando eu com direito de propriedade de mais de trinta anos. A fazenda Piripiri, da linha divisória da demarcação deste povoado, em rumo leste, como se vê na referida demarcação me dar posses superabundantes, sendo o proprietário mais antigo do lugar e de posses verídicas e legais, possuindo outra posse nessa mesma fazenda Piripiri, bem como no sítio Anajás, onde tenho Casa de telha, engenho e outros arranjos e plantações: possuo as mais diversas “posses”  nessa “fazenda Piripiri”, como se vê nos competentes documentos que tenho. Declaro que fiz doações da Capela de Nossa Senhora dos Remédios com ornamentos que se achavam arruinados pela idade, tempo, cuja doação foi feita legalmente, como se vê nos termos exarados no competente livro. Os meus testamenteiros mandarão ferrar de meus gados, oitos garrotas para Nossa Senhora dos Remédios, isto é adjutório da sua Capela, da qual sou administrador, e por falta de patrimônio tenho feito todas as despesas e a vista das contas virá o que se me deve. Declaro que possuo uma propriedade de casas cobertas de telhas onde moro, tenho mobília e mais móveis, como acharão na mesma casa, como também obras de prata, sendo castiçais de prata, castiçais de mangas de vidro, jarro, bacia, copo, alva, talheres, um cálix e caixa dos Santos Óleos, com relíquias dentro da mesma e uma caixa de tabaco de ouro. A moeda será a que achar-se , senso muito pouca. Declaro que possuo outra casa coberta de telha, rumo do leste de minha casa de morada, que é minha situação de gados e mais animais que crio. Declaro que possuo outra morada de casa coberta de telhas, no meu sítio denominado Anajás, desta fazenda “Piripiri”, onde tenho plantações, engenho de cana com tachos de cobre e aviamentos de fazer farinha. Declaro que tenho posses de terras nas fazendas “Piracuruca” e “Iús de Cima”, como verão dos competentes documentos. Declaro que o capitão Antônio Ferreira de Araújo e Silva, morador na cidade de Parnaíba, me é devedor da quantia de cento e setenta e quatro mil réis, como se vê de suas contas. O finado vigário da supradita, cidadão Domingos Rodrigues Chaves, ficou me devendo quatrocentos e tantos mil réis, de resto de uma morada de casas que comprou-me, na mesma cidade. Declaro que o tenente coronel Felipe Diogo Borges, morador na cidade do Maranhão foi meu procurador, afim de vender dois prédios que mandei dispor, em hasta pública naquela cidade, sendo uma casa de sobrado, na rua das mercês e outra, térrea na rua Grande, porém muito boa casa; ele sendo meu procurador, mandou arrematar para si, contra o disposto da lei, e à vista de suas contas correntes, examinando-as, achei contra mim, a quantia de noventa e cinco mil réis, como se vê no extrato de suas contas que ele me enviou, estou alçado em cento e trinta e dois mil e quatrocentos réis como se vê de duas cartas, a respeito, ordenando-me para entregar a dita quantia a José Coelho de Miranda, então morador na cidade da Parnaíba e que, prontamente, lhe entreguei quarenta mil réis, como se vê do recibo que me passou, restando eu, noventa e dois mil quatrocentos réis, e como meu mencionado procurador estivesse alcançado em noventa e cinco mil e duzentos réis, escrevi-lhe a respeito, afim de encontrar essa quantia que me era devedor, no que lhe restava, apesar que era maior a que ele me devia. Não temos crédito de parte a parte e, consequentemente, esta dívida está paga além do exposto dito, meu procurador me deve porcentagem da cobrança que fiz a seu favor, da casa do finado vigário de Piracuruca, José Monteiro de Sá Palácio, por tanto os meus Testamenteiros nada assentarão, caso apareça alguma causa a respeito, por isso nada devo, e ficam papéis por donde se pode esclarecer a verdade. Declaro que não tenho conta com pessoa alguma, porque o que compro pago, nunca passei crédito a ninguém, cujo motivo nada devo presentemente e por cuja razão, os meus Testamenteiros não reconhecerão dívida contraída por mim, em não ser por crédito, letra ou vale passado por meu próprio punho, que de certo não aparecerá. Declaro que tive um negócio de fazenda a cargo de meu filho e herdeiro, Domingos de Freitas e Silva Júnior, no ano de mil oitocentos e sessenta e um; não querendo mais continuar com esse negócio, esbarrei e o mesmo deu-me conta exata d referido negócio, não ficando nada a mim pertencente no poder do referido meu filho e herdeiro, Domingos de Freitas e silva Júnior; o negócio que ele trata é propriamente seu, adquirido por seu trabalho e por isso os seus irmãos, meus herdeiros, nada tem que tratar a respeito.  Declaro que os meus herdeiros, Raimundo de Freitas e Silva, Domingos de Freitas e Silva Júnior, Antônio Francisco de Freitas e Silva e Amélia Clemência da Silva, casada com Antônio Francisco de Sales, meus filhos herdeiros, constituídos, todos tiveram um escravo que herdaram por parte de sua mãe, Lucinda Rida da Silva, digo Rita de Sousa, sendo: o de Raimundo – Manoel; o de Domingos – Francisco; o de Antônio – Moisés e o de Amélia – Salomão, por isso não entrarão como o valor dos mesmos escravos, nas legítimas que tiveram de herdar de minha parte declaro que possuo os escravos seguintes: José Nação Angola, Camilo Cabra, Antônio Criolo, Samuel Cabra, Jonas Cabra, Tomásia Criola. O escravo José deixo liberto na metade de seu valor e a escrava, Tomásia, deixo liberta, em remuneração de ter criado o meu herdeiro, Antônio Francisco. Declaro que alem dos escravos supramencionados todos os mais se conservam em minha casa, e poder, são pertencentes a senhora Jesuína Francisca da silva, que a vinte e dois anos reside em minha casa, cujos escravos que teve de legítimas de seu pai, Antônio da Silveira Sampaio, e outros, que sua mãe, Umbelina Francisca de Castelo Branco, lhe fez doação, como bem sabem meus Testamenteiros. Pagas as minhas dívidas, se houver na ocasião, que de presente nenhuma tenho, como já declarei, cumpridos os meus legados, constituo por minha herdeira da terça de todos os meus bens, a senhora Jesuína Francisca da Silva, filha legítima de Antônio da Silveira Sampaio, já falecido,  e de dona Umbelina Francisca de Castelo Branco, pelo bom tratamento que me tem dado, prestando-se humanamente nas enfermidades que tenho sofrido, bom zelo e cuidado na administração de minha casa, e em remuneração de todos estes benefícios, a constituo legítima herdeira da terça de todos os meus bens. Declaro finalmente que sendo falecidos meus pais e todos meus irmãos, como já especifiqueis neste meu testamento, e tendo unicamente herdado da parte materna, a quantia declarada de trezentos quarenta e oito mil, seiscentos e vinte réis, e da parte paterna, absolutamente nada, por morrer meu pai falido de bens, sendo por mim sustentado até morrer, e o mesmo ter acontecido com meus irmãos, Bernardo, Maria e Catarina, como tudo fica declarado, não tenho, por cujo motivo, herdeiros forçados, apesar de serem meus bens adquiridos por meu trabalho e agências, em tais circunstâncias nomeio e constituo por meus legítimos e universais herdeiros de todos os meus bens, depois de tirada a terça aos meus filhos que  por tais reconheço, sendo Raimundo de Freitas e Silva, casado com a senhora, Arcângela de Sousa da Anunciação; Domingos de Freitas e Silva, solteiro; Porfírio de Freitas e Silva, casado com a senhora Francisca Eufrásio, sendo estes meus Testamenteiros; Antônio Francisco  de Freitas e Silva, solteiro; Amélia Clemência da Silva, casada com Antônio Francisco de Sales, sendo estes cinco herdeiros contemplados, filhos de Lucinda Rosa de Sousa, já falecida; Henrique José de Freitas e Silva, solteiro, de menoridade; Antônio de Freitas e Silva Sampaio, também de menoridade; Raimunda Francisca da Silva, casada com Manoel Tomaz Ferreira; Rita Maria de Almeida e Silva, solteira; Maria Justiniana da Silva, de menoridade; Umbelina Inácia da Silva, também de menoridade e Aurélio de Freitas e Silva, menor; estes sete herdeiros indicados, filhos da herdeira da terça de meus bens, a senhora Jesuína Francisca da Silva, que com os cinco mencionados filhos da finada, Lucinda Rosa de Sousa, preenche o número de doze herdeiros legítimos e universais de todos os meus bens, por isso os reconheço todos os doze de nomes especificados neste meu Testamento, por meus filhos, por tais habilitados, sem precisar de qualquer documento por serem mui conhecidos como de meus Testamenteiros e seus irmãos. Todos herdarão em parte igual e o que falecer de menoridade a sua legítima passará com igualdade para todos seus irmãos. Declaro que eduquei e casei, Lucinda Rita e Joana Paula da Silva, esta casei com Manoel da Silveira Sampaio e aquela, com Bernardo Lopes Castelo Branco, ambas filhas da finada, Lucinda rosa de Sousa, mãe de meus herdeiros contemplados neste meu Testamento e a ambas dotei com dotes suficientes, bem como escravos, gado, ouro e prata em barras e mais bens, as quais já são falecidas deixando a finada Lucinda, uma filha de nome Lucinda, minha afilhada e a finada Joana Paula, um filho de nome Antônio, também meu afilhado, que é de minha vontade que os dotes que dei a ambas sejam transferidos para seus filhos supra mencionados e por isso meus herdeiros não se oporão a esta minha vontade, cuja se estende dos bens que dei quando se casaram, Lucinda Rita da Silva e Joana Paula da Silva. Declaro finalmente que a bem do suprimento, que fez a meu pai, Domingos de Freitas Caldas até morrer, paguei uma dívida ao Capitão Antônio Ferreira de Araújo e Silva pertencente ao casal do Tenente Raimundo dias da Silva, da quantia de cento e oitenta mil réis, que o mesmo meu pai devia, por esta forma hei por declarado este meu Testamento pelo qual derrogo outra qualquer cédula ou codicilo, porque só quero que este valha e tenha força e vigor em juízo e fora dele, e rogo a Justiça de Sua Majestade Imperial e Constitucional de um e outro Foro a façam cumprir e guardar da maneira que é ele e se contém e declara por esta minha vontade, por mim, feito reassinado e em meu perfeito juízo, perante as testemunhas assinadas. Povoação de Peripery do Termo de Piracuruca, dez de novembro de mil oitocentos e sessenta e dois. Domingos de Freitas e Silva”.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O PADRE FREITAS DE PIRIPIRI


                             

Quem é o fundador de Piripiri?

O homem que fundou Piripiri chamava-se Domingos de Freitas Silva, nasceu na Vila da Parnaíba em 1798. Era filho caçula de Domingos de Freitas Caldas e de Rita Maria de Almeida e tinha como irmãos: José Catarina De Sena e Silva, Maria Rita da Silva e Bernardo de Freitas Caldas. Teve como padrinho de batismo o vigário da Vila, o Padre Henrique José da Silva, do qual herdou o último sobrenome.

Seu pai era de origem portuguesa e estava ligado por laços de parentesco e amizade aos Dias da Silva, uma importante família que durante gerações liderou os caminhos da Vila da Parnaíba. Esta ligação lhe valeu durante anos, o cargo de escrivão do cartório da referida vila, que mais tarde passara as mãos de Bernardo de Freitas, irmão mais velho do fundador, que juntamente com diversos outros nomes parnaibanos, figuraram no processo de independência do Piauí em 1822.

Detalhes de sua infância são desconhecidos, conseguimos coletar apenas que Domingos de Freitas revelou-se um jovem inteligente, o que lhe valeu por parte de seu padrinho de batismo o custeio de seus estudos na escola e posteriormente no seminário, onde se ordenaria presbítero secular em São Luís do Maranhão. Regressando à terra natal, exerceu atividades eclesiásticas e de regente da cadeira de latim até o rompimento do movimento de Independência do Piauí, quando se refugiou em Granja no Ceará, acompanhando seu irmão Bernardo e os outros líderes do levante.

Ao retornar da fuga, abrigou-se em terras da freguesia de Piracuruca. Não se sabe o real motivo de sua vinda, algumas hipóteses levam a idéia de perseguições. Ou motivos políticos ligados ao movimento de independência, ou motivos pessoais, entre eles desavenças com familiares de uma mulher que ele resolvera abraçar como companheira: a jovem Lucinda Rosa de Sousa, que viria a ser mãe de cinco e seus doze herdeiros. Ela era membro da família Silva Henriques, outra influente família Parnaibana. Um momento crucial na vida do fundador de Piripiri foi a notícia da contratação de um assassino de aluguel para lhe eliminar. Franco Cascavel era o nome do pistoleiro. Sobre este episódio, Judith Santana em sua obra - O Padre Freitas de Piripiri, relata:

“Na noite de 23 de junho de um ano daquele começo do século XIX, estavam alguns rapazes e moças festejando o São João na porta da Igreja matriz de Nossa Senhora do Carmo em Piracuruca. Como de costume, faziam experiências para desvendar o futuro. Uma bacia com água estava à disposição das pessoas que quisessem participar da brincadeira. Quem não visse a sua imagem refletida na água benta em volta da fogueira não veria o São João do Ano Seguinte. Um rapaz que ali se encontrava com a noiva disse que não ia olhar, pois sendo jovem, sabia que viveria muitos anos. A dois passos estava Franco Cascavel. De repente caiu o jovem. Caiu morto. E Franco Cascavel disse, retirando-se: Foi cascavel, mas não fui eu! E desapareceu. Dois homens que procuraram socorrer o rapaz encontraram enfiado em suas costas um punhal envenenado. Não havia dúvida. Fora o Cascavel. As autoridades responsáveis pela segurança da Vila, informadas de que o assassino era o pistoleiro que andava à procura de Domingos de Freitas e  Silva, a mando de um dos chefes da Vila da Parnaíba para tirar-lhe a vida, despacharam soldados em diligências, perseguindo-o. Conseguiram encontrá-lo em Barras, ponto de parada para descanso no Trecho Piracuruca a Livramento. E começou um terrível tiroteio. De um lado a violência dos soldados. Do outro, Franco Cascavel atirando, defendendo-se, resistindo sozinho. Por fim, caiu morto atingido por um tiro.(...)”

Depois deste incidente ele passou a viver na Fazenda Gameleira, juntamente com sua companheira D. Lucinda, suas duas filhas de outro matrimônio - Lucinda Rita da Silva e Joana Paula da Silva, e os filhos frutos da união do casal: Domingos de Freitas Silva Júnior, Porfírio de Freitas e Silva, Raimundo de Freitas e Silva, Amélia Clemência da Silva e Antônio Francisco de Freitas e Silva. A três de junho de 1839, na Fazenda Gameleira, morre sua primeira companheira cujo corpo fora sepultado na Igreja de Nossa Senhora do Carmo em Piracuruca. No ano seguinte, 1840, Domingos de Freitas, já morando com sua nova mulher, D. Jesuína Francisca da Silva, adquire terras na Data Botica, dando início à ocupação das terras que daria origem a cidade de Piripiri. Desta segunda união nasceram mais sete descendentes: Henrique de Freitas Silva, Raimunda Francisca da Silva, Antônio de Freitas Silva Sampaio, Rita Maria de Almeida e Silva, Maria Justiniana da Silva, Umbelina Inácia da Silva e Aureliano de Freitas Silva. Destes doze filhos reconhecidos em seu testamento, se ramificaram diversas outras famílias presentes até os dias atuais na cidade de Piripiri.

Em 1862 o Padre Freitas redige seu testamento e deixa claro as suas vontades mortuárias:
“Meu corpo será sepultado na Capela de Nossa Senhora dos Remédios, ereta a minhas expensas caso faleça neste lugar de Piripiri por mim fundado; meu enterramento será feito com o acompanhamento de meus irmãos sacerdotes, que existirem no lugar(...)No dia de meu enterro darão meus Testamenteiros trinta mil réis de esmolas aos pobres, que acompanharem o meu corpo a sepultura, com igualdade, e mandarão dizer a missa de Corpo presente(...)”


Sobre os seus últimos dias, Judith Santana ainda nos fala:

“Mas à medida que o tempo passava iam-lhe chegando os achaques da idade, os sintomas de um câncer externo minando-lhe o organismo. Começava a decadência física muito embora o espírito ainda não estivesse embotoado pela arteriosclerose. E a 26 de dezembro de 1868, aos 70 anos, faleceu. Encerrava-se a trajetória terrena de um home digno de aplausos piripirienses de todos os tempos. Deixava o Padre Domingos de Freitas Silva o seu nome escrito nas páginas da história da terra por ele fundada e amada.”

Seus pedidos foram cumpridos, seu corpo foi sepultado na capela por ele fundada. Porém em nome do “progresso” seu corpo foi transladado. Sobre este fato, Cléa Rezende Neves de Melo nos fala em sua obra Memórias de Piripiri, páginas 99 e 100 sobre estes fatos ocorridos no presente ano:

“1940 – O Prefeito Nelson Coelho de Rezende inaugura o calçamento da Rua João de Freitas e um obelisco marcando o local onde estava a primeira capela de N. S. do Rosário e o túmulo do fundador  1940 – Inaugura-se, em 19.09 a segunda capela de N. S. do Rosário, construída para receber os restos mortais do Fundador, transladados da primeira capela, que foi demolida. A construção, homenagem do povo piripiriense, em terreno doado pela Srª Carolina de Moraes Aguiar e Silva, esposa de João de Freitas e Silva, bisneto do fundador, serve de jazigo perpétuo do Pe. Domingos." (imagens 2 e 3)
foto 2 (construção do calçamento da rua João de Freitas) 
autor desconhecido

foto 3 - construção do calçamento da Rua João de Freitas (autor desconhecido)

Ao nos depararmos com estes fatos da vida do fundador não nos foge o questionamento de que como um sacerdote poderia se casar e ter filhos? Poderemos encontrar uma possível resposta se observando os costumes familiares do Brasil colônia e Império, pois era quase que uma obrigação nas grandes famílias desta sociedade, a existência de pelo menos um membro parte do eclesiástico. E como o padrinho de batismo de Domingos de Freitas era um desses, ele seguiu a referida carreira mesmo sem ter possivelmente se reconhecido pelo chamado sacerdotal. Pois em uma sociedade fincada em fortes regras religiosas católicas cristãs desde a colonização portuguesa, cabia muito bem esta função.
Além de sacerdote, Domingos de Freitas também se mostrou homem de negócios. Em seu testamento também deixa claro suas finanças. Desde suas posses, herança recebida, gastos com seus familiares durante vida e pós-morte, dotes a suas filhas e enteadas, até seus devedores.
Padre Freitas não deixou nenhuma imagem. Pois do período de sua morte, a fotografia ainda estava em seus passos iniciais, e a pintura de um quadro, era privilégio de poucos em seu tempo. O que temos, segundo Judith Santana é a fotografia de um de seus filhos, Freitas Júnior, (figura 4). Segundo seus familiares, Fisicamente, o Pe. Freitas era um homem de estatura mediana, alvo de feições rosadas, olhos azuis e acentuada saliência no pescoço. Já sobre a personalidade do fundador, Cléa Rezende Neves de melo, escritora e também descendente do fundador o padre tinha um gênio forte. Era ligeiramente gago e vez por outra, discutia com seus fiéis e era acometido de ataques apopléticos, caracterizado pela privação temporária dos sentidos. Depois da crise, ia fazer as pazes com seus desafetos. Ela ainda afirma que nem todos os Freitas aceitam esta versão, mas contemporâneos do fundador confirmavam este fato. “A história não se resume só a enaltecer a figura mítica dos grandes sujeitos, também é preciso lhes atribuir a figura humana”. Finaliza a escritora sobre o fundador de Piripiri.
Uma obrigação mínima de todo piripiriense, nato ou de coração, seria enaltecer para as atuais e próximas gerações a memória deste cidadão do mundo – Domingos de Freitas Silva, ou simplesmente o nosso Padre Freitas de Piripiri.


Fonte de pesquisa:
Judith Santana -  O Padre Freitas de Piripiri. 1984.
Cléa Rezende Neves de Melo – Memórias de Piripiri. 2ª edição. 2001.
Arquivos da Paróquia de N.S. do Carmo de Piracuruca-Pi.

 



























APRESENTAÇÃO


Saudações nobres internautas.

É com grande satisfação que inicio uma nova etapa deste meu curto, porém já gratificante trabalho de professor de História e de pesquisador da História de Piripiri.


Um pouco de minha história...
        Sou licenciado em História pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI “CAMPUS DE PIRIPIRI”, (2005) e especialista em História do Brasil pela Faculdade Piauiense – FAP (2009).
Em 2004 iniciei minha atividade docente como professor efetivo no ensino fundamental na rede municipal de Piripiri na acolhedora zona rural (só quem já lecionou na ZR pode compreender e confirmar que estou falando). Primeiramente, no povoado Formosa e de lá para cá tive a oportunidade de fazer amigos também nas localidades: Banda, Caldeirão e Santa Rosa. Aqui na cidade nos colégios Frederico Ozanan, Irmã Ângela e Paulo Machado. Também tive o prazer de lecionar na rede estadual de ensino nas escolas Júlio César da Silva (Caldeirão), Cassiana Rocha, Judith Alves Santana, Baurélio Mangabeira e José Narciso. Tive também uma passagem em escolas particulares, como o saudoso Prisma, em seus últimos anos, ensino médio e pré vestibular, e Educandário Christus, Pré-Vestibular. Mas não fiquei só por aqui! No biênio 2008/2009 iniciei a Docência Superior na UESPI da vizinha cidade de Piracuruca, onde estou de volta em 2012/2013. Desde 2011 exerço também, a nível superior, a função de professor tutor de EAD na Universidade Norte do Paraná – UNOPAR- Polo de Piripiri, curso de História.

        Diversos fatos marcaram minha trajetória profissional até agora. Desde uma gagueira seguida de um tremor nas pernas e a voz que teimava em não sair, na primeira aula ministrada em 2004 na 6ª série (hoje 7º ano) lá na formosa, a carros quebrados nas idas e voltas, mas regado a muito bom humor fruto do companheirismo adquirido com os colegas de profissão. Intempéries climáticas também deixaram suas marcas, tipo aquele primoroso inverno de 2009, que hoje recordo com risos de certo dia em que saí de casa às 12h de um dia e cheguei às 4hs da manhã do dia seguinte, pequeno atraso motivado  por um lindo riacho que teimou em só querer nos dar passagem naquele horário. Também é inesquecível o prazer que tive em todos os dias, durante quase dois anos de passar de manhãzinha na parede do Caldeirão, sentindo aquela brisa gostosa entre neblinas e aquele lindo sol nascendo no horizonte. Gratificantes também foram às várias oportunidades que tive de ver alunos passando no vestibular. Neste momento compreendi o que meu saudoso “tio tó”, a quem os sobrinhos chamavam carinhosamente quem aqui na cidade ficou conhecido como Professor Giovani, que me relatou certa vez, o quanto era grande esta satisfação em saber que vários profissionais de diversas áreas foram seus discentes.

        No ano de 2010 houve uma tentativa da implantação da História de Piripiri nas escolas da rede municipal, e lá estávamos na coordenação dessa batalha. Porém, devido a diversos fatores internos o projeto não vingou para o ano seguinte.

Outro trabalho que também me orgulho de ter em meu currículo, foi a missão dada pela professora Inez Araújo, diretora do Colégio José Narciso da Rocha Filho, de proferir o discurso histórico da comemoração do primeiro cinquentenário da Escola, onde fora lançado um selo alusivo ao evento. 
Minha outra parte como profissional é a de pesquisador, e algo que chamo de “projeto de escritor”, onde iniciei meus trabalhos no saudoso Jornal Visão, passei pelo site vejapiripiri.com e hoje aqui estamos neste blog individual. De já também deixo aqui os agradecimentos ao crédito que estes conceituados meios de comunicação da cidade deram a este iniciante historiador. Os frutos deste trabalho já são em número menor. Porém também de muita valia para me incentivar neste movediço caminho da pesquisa histórica. Tenho a honra de ostentar na parede de meu quarto o “Mérito Educacional Padre Freitas”, por ocasião da vitória no Primeiro Concurso Literário sobre a educação de Piripiri, promovido pela ACALPI/SEDUC, onde obtivemos o primeiro lugar com o artigo: “Memorial do Saber – Páginas da Educação Piripiriense”.
        Quando coordenamos a disciplina de História de Piripiri na rede municipal, tive o prazer de conhecer a grande escritora Cléa Rezende Melo, que muito tem me ajudado e inspirado minhas pesquisas. Quando ainda estávamos no vejapiripiri, além dos artigos, iniciamos um trabalho documentarista de história de vida, através no projeto de nossa autoria intitulando: “Piripiri – vozes da cidade”. Na ocasião realizamos apenas um documentário, mas imensa valia, pois tivemos o prazer de coletar a história de vida de nosso querido Frei Pio.

        E aqui estamos, neste blog, neste novo trabalho, que será o de tentar trazer novos artigos e também de resgatar alguns já publicados. O “Vozes da Cidade” irá continuar com novas figuras de nossa história.

Conto aqui com a "participação, críticas e sugestões" de todos que apreciam a História de Piripiri.

Forte abraço a todos!