quarta-feira, 5 de março de 2014

AVISO IMPORTANTE

AGORA ESTAMOS NO SITE:
historiadepiripiri.com

é só clicar abaixo: 

http://historiadepiripiri.com/


                                                                                  Obrigado.

domingo, 3 de março de 2013

Memorial do Saber - Páginas da educação piripiriense *


"Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda" afirmou o pedagogo Paulo Freire. Traçando um paralelo com a ciência Histórica, e reconhecendo que é “impossível saber para onde vamos se não sabemos de onde viemos”, iremos nestas páginas fazer um relato da história da educação cidade de Piripiri em homenagem a seu centenário de administração política. Onde reconheceremos a importância da primeira escola para a compreensão do vasto sistema educacional do presente.

 Para se falar deste tema, é impossível não traçarmos um paralelo com a história do Brasil e do Piauí, já que estes, são agentes diretos deste processo.

A Primeira página da História da Educação de Piripiri pode ser honrosamente comparada aos primeiros passos da educação brasileira, onde o próprio fundador do núcleo urbano, o Padre Domingos de Freitas e Silva, já demonstrando seus interesses de desenvolvimento no que se tornaria hoje uma das mais importantes cidades do Estado, funda em 1857, na capela por ele edificada, a gênese do saber piripiriense, através de cadeiras já lecionadas por ele na Vila da Parnaíba: aulas de primeiras letras, disciplina implantada desde o Brasil colonial durante a fase da educação dos jesuítas com função elementar de ler e escrever e também de divulgadora da fé católica, mas só estendida a todas as cidades e lugarejos através de uma lei imperial de 1827. A outra disciplina também lecionada era a cadeira de latim, que fora implantada já na era educacional do Marquês de Pombal, um período de transição na educação do Brasil, pois depois da expulsão dos Jesuítas, o ensino caracterizou-se por uma substituição dos interesses da fé para uma escola útil para o Estado. Podemos destacar como seus primeiros discentes alguns honrosos nomes da História de Piripiri como os de Thomaz Rebello e Simplício Coelho de Rezende. 

 Entre ensino público e privado, já poderemos fazer reflexões desde os tempos do Brasil Império e do Piauí província no ano de 1845 quando o então presidente da Província do Piauí, Zacarias de Góes, através da lei provincial nº 198 lança o marco fundamental da educação pública no Piauí com a normatização do ensino público ganhando uma estrutura organizacional. Enquanto isso, no ainda Distrito de Peripery, no ano de 1868, falece o fundador, assumindo suas funções seu aluno, o professor Antônio Lopes Castelo Branco, fundando no ano seguinte o Colégio São José, particular.

O ano de 1870 é marcado na educação piripiriense, com a fundação da Escola Primária da Paróquia sob os auspícios do professor e músico Manoel Pedro de Souza Bem, criada pela lei nº 692 de 3 de agosto, contando com 45 alunos.

 No limiar do século XX, onde a educação ainda era rígida e patriarcal, seguindo os modelos educacionais implantados pelo império, com a preocupação de formação de uma elite dirigente, o próprio ensino se diferenciava para meninos e meninas, onde se acreditava que ler e escrever eram tarefas só para os homens e as mulheres só precisavam aprender os afazeres domésticos, como técnicas de costura, renda e boa moral em sua residência, encontramos nos respectivos anos de 1877 e 1880 a nomeação do que pelo menos até o momento seja das primeiras educadoras de Piripiri, são elas Raimunda Medes da Rocha, professora subvencionada, e Mariana Francisca de Menezes, contratada pelo governo da província, e Francisca Ribeiro Soares da Costa é nomeada professora primária.

Diversos fatos marcaram o Brasil, Piauí e Piripiri, na transição do século XIX para o século XX, como por exemplo, a proclamação da república, que teve seus reflexos na educação através do modelo republicano de ensino, com uma aparente negação do modelo elitista imperial, cujo saldo foi quantia de cerca de 60% da população do Brasil analfabeta. A república iniciou um gradativo processo de melhoramento na educação do Brasil através da intensificação de debates a cerca sobre a gratuidade e obrigatoriedade do ensino de primeiro grau e direito de todos à educação e liberdade de ensino. É neste clima que registramos mais uma página da educação na ainda Vila de Periperi, no ano de 1908 com a fundação do Instituto Arco Verde de liderança do Padre Bezerra de Menezes, que chegou em nossas terras em 1903, e também de duas grandes figuras que hoje nomeiam respectivamente uma escola estadual, uma biblioteca e rua na Piripiri de hoje. São: eles Arimathéa Tito e Lolô Freitas. 
Instituto Arcoverde. (foto: Fabiano Melo)
O ano de 1910 é considerado um marco na nossa história, pois foi neste ano que a Vila de Periperi, adquiriu o título de cidade. Com este título nasce agora uma estrutura administrativa autônoma e reguladora do ser comum citadino, agora dotada de uma autonomia executiva, livre de outras dominações. No ano de 1913, temos a fundação do Colégio Castelo, fundado pelo professor Álvaro Alves Ferreira, grande intelectual piripiriense, dentre suas diversas funções vale destacar sua cadeira de nº 26 da Academia Piauiense de Letras, e do professor Felismino de Freitas Weser, aluno do Instituto Arcoverde, fundador e diretor de várias instituições na capital do Estado.
(foto: Fabiano Melo)
Vale destacar que nos primeiros anos da República, se intensificaram as idéias de legitimação da nação brasileira, através da pátria, onde no ano de 1924 temos a instalação das Escolas Reunidas Padre Freitas, com destaque para a sua primeira diretora a professora Sinhá Carvalho, hoje nome de uma escola da rede Estadual. Mas somente no dia 15 de novembro de 1943, aniversário da proclamação da República, é que temos a solene inauguração do Grupo escolar Padre Freitas com a presença do Interventor Landri Sales e sua comitiva. Neste momento, vale lembrar que em 1932 é lançado o Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, defendendo novas idéias exaltando a educação como instrumento de reconstrução nacional e a adaptando a características regionais e aos interesses dos alunos, bem como propondo uma formação universitária a todos os professores.

(foto: Fabiano Melo)
É inegável a participação do eclesiástico no processo educacional de Piripiri. Outro grande nome que é digno de ser lembrado pela constante preocupação pela educação é do Padre Raul Formiga, que também nomeia um educandário na rede municipal. Assumiu seus trabalhos paroquiais em 26 de agosto de 1941. Segundo a historiadora Judith Santana em sua obra Piripiriseguia a linha direta do fundador da cidade: pensava na educação da criança e do jovem. E no dia 2 de março de 1942 implantava o marco inicial de mais uma escola da Paróquia. Começando com um curso primário, posteriormente criaria a Escola Normal Rural de Piripiri, com a colaboração das professoras Risete Cabral e Amália Nunes”. A historiadora Cléa Resende Neves através de depoimento oral também lembra que Padre Raul “educou toda uma geração com música clássica, através das amplificadoras da igreja matriz”.


No mesmo ano de 1942 também é inaugurado oficialmente o Grupo Escolar Cassiana Rocha que recebeu este nome em homenagem a D. Cassiana Pires Rebelo da Rocha, filha do Cel. Tomaz Rebelo e D. Lina Cassiana Rebelo. Casou-se com José Narciso da Rocha Filho, que depois de sua morte prematura, decidiu homenageá-la, construindo com dinheiro que ela deixara, este estabelecimento de ensino que teve como primeira diretora D. Alda Rocha. (a data de 1940 refere-se a fundação, e 1942 a da inauguração oficial) 
Cassiana Rocha (foto: arquivo da escola)



 No ano seguinte, em 1945 é fundado o Círculo Operário.
(foto: Fabiano Melo)
Não poderiam ficar de fora dessas páginas da educação de Piripiri a inesquecível participação das irmãs de caridade na cidade, onde as pioneiras foram Irmã Eulália Timbó, Irmã Mariana de Albuquerque Mendes e a Irmã Helena Silva, aqui chegadas no ano de 1947. Sob a direção da primeira, a Escola Paroquial Primária e a Escola Normal Rural seguia seus rumos, abraçando a causa dos pobres e ministrando educação gratuita de moral, religiosidade, vida social, cívica e doméstica.Foram  instaladas pela Ir. Fiúsa. Destaque na solenidade de inauguração para uma interessante "Hora de Arte" realizada por alunas e mestras auxiliares no Salão Paroquial segundo Juditn Santana. Lembrando que a nível nacional o sistema educacional ainda estava vivendo sob a influência doe educação pregada pelo Estado Novo, onde por exemplo, o ensino profissional,industrial, comercial e agrícola sofreram uma regulamentação nacional atendendo aos interesses dos trabalhadores.

Na continuidade destas pegadas indeléveis das irmãs de Caridade na educação de Piripiri podemos citar no ano de 1948 a fundação do Patronato Santa Catarina Labouré, e a formação da Escola Normal Rural Regional Sagrado Coração de Jesus, em 1952, com a função de formar educadores do ensino primário. Também é oportuno lembrar a preocupação com adultos com a formação da Escola Noturna Aderson Alves Ferreira, e a escola Normal São José, em 1996.

A cidade de Piripiri é contemplada no ano de 1960 com a criação do Ginásio José Narciso da Rocha Filho, por iniciativa do então prefeito Aderson Alves Ferreira, sob a batuta do magnífico professor Omar de Andrade Rezende, que por merecimento honroso também tem uma escola em seu nome. Digna de aplausos e de exaltação para a posteridade foi a “Oração Sapientae” proferida pelo grande professor Álvaro Ferreira onde vale lembrar aqui um trecho de seu documento: “[...]Este ginásio, portanto, tem uma razão de ser. Ele faz pare da contribuição que Piripiri irá fornecer à civilização contemporânea, na pessoa dos jovens que, aqui, receberão as luzes do saber[...]”. Sem dúvida alguma esta instituição de ensino merece uma página de destaque nessa História da Educação piripiriense, pois realmente estas palavras proferidas pelo professor Álvaro, se tornaram profecias no momento que os primeiros frutos passaram a ser colhidos, a partir da colação de grau da turma pioneira “Professor Omar Rezende” em 1964:

Esta escola formou diversas personalidades que figuram na História de diversos setores de nossa cidade. 
Abrindo uma ponte com o presente, é digno de exaltação a participação do diretor José Ribanar da Silva, primeiramente com seu trabalho humano com os discentes, com uma constante preocupação com a formação intelectual, emocional e pessoal de seus discentes, onde o reconhecido por seu trabalho lhe renderam premiações de gestão a nível nacional, com seu trabalho reconhecido e publicado na revista TV escola de outubro de 2002, com o título: “Em Piripiri –Pi Ensino Público de qualidade”. Nos dias atuais o educandário proferido pelo professor Álvaro Ferreira é dirigida pela também competente Professora Inez Maria e continua sendo destaque entre as primeiras escolas públicas do Estado do Piauí, preparando cidadãos, e colocando-os nas mais diversas faculdades do Estado. 

Ainda no ano de 1962 diploma-se a Turma Irmã Luiza Sena no colégio São José a primeira turma do Curso Pedagógico, lançando novos profissionais na área da educação piripiriense.

Chegamos à década de 1960 onde o Brasil foi sacudido pelo sistema político das ditaduras militares, no campo da educação, verificou-se uma Política educacional voltada à tendência tecnicista partindo do pressuposto da neutralidade científica, inspirada nos princípios de racionalidade, eficiência e produtividade, a preocupação da escola com a eficácia e a eficiência do ensino transforma os conteúdos em técnicas de planejamento, de ensino, materiais instrucionais. A imagem que este governo tentava repassar a população era de um relativo crescimento, mesmo com tantos atos obscuros de repressão às oposições, na área educativa teve um papel importante. Porém, a cidade de Piripiri ainda mantinha resquícios da educação pregada na República Populista, onde tivemos a primeira Lei das Diretrizes Bases da Educação Nacional, através da lei 4.024/6, onde vale lembrar a ênfase às campanhas de educação de adultos e movimentos de educação de base e o programa nacional de alfabetização.  No dia 26 de setembro de 1964 a cidade teve a visita do então secretário da Educação e Cultura do Estado José de Arimathéa Tito Filho, inaugurando as escolas: Arimatéa Tito, onde no momento pronunciou um eloqüente discurso em reconhecimento a este notório educador em Piripiri e o Grupo Escolar João Coelho de Rezende.

A União Caixeiral, uma associação de prestação de serviços sociais da indústria e comércio, fundada em 1932, também escreveu nas páginas da educação em Piripiri, fundando em 1968, com iniciativa de João Evangelista de Melo uma Escola de Comércio.

A partir da década de 1970, observamos na política do Brasil, uma abertura gradual do processo democrático. Na educação percebemos uma contestação ao caráter tecnicista. Mas na área da edificação de escolas, devido ao constante progresso que a cidade já se encontrava, e existindo a conseqüente necessidade de novos educandários nesta década e na posterior, a de 80, a cidade é contemplada com a construção e inauguração de diversas escolas, sempre com nomes em homenagens a relevantes vultos da educação em nossa cidade, podemos citar: Escola paroquial Frei Jordão,  Escola Técnica de Comércio Professor Álvaro Ferreira, Unidade Escolar Desembargador José de Arimathéa Tito e João Coelho de Rezende, já citadas; Unidade Escolar Cota Sampaio, Unidade Escolar Nenen Cavalcante, Unidade Escolar Auri Castelo Branco, Unidade Escolar Aderson Alves Ferreira, Unidade Escolar Deputado Monteiro Alves, Unidade Escolar Sinhá Carvalho, Unidade Escolar Embaixador Espedito Rezende, Unidade Escolar Baurélio Mangabeira e Unidade Escolar Judith Santana, estas de cunho estadual.

Também não pode ser esquecida destas páginas, a ação do Movimento Brasileiro de Alfabetização, o MOBRAL, propondo a alfabetização funcional de jovens e adultos. Em Piripiri, sob a liderança e os olhares constantes da inesquecível figura do Professor Antônio Neto.

Nas últimas décadas, se intensificaram os educandários particulares que deram e ainda hoje oferecem educação. Desde o colégio São José, já citado, aos dias atuais, diversos foram os educandários merecem destaque nas páginas da Educação de Piripiri: Escola Pinguinho de Gente, hoje Colégio Maria José, uma brilhante educadora, que através de seu “método das sete semanas” ensinou muitos piripirienses as primeiras letras; Escola Frei Francisco, Unidade Escolar Prisma Ltda, idealizada pela pessoa brilhante de Zélia da Cruz Castro Bezerra de Melo, nossa “Tia Zélia”; Unidade Escolar Christus, fundada pelo casal Antônio e Zuíla Rezende, hoje administrada pela competente professora Maria do Carmo; Unidade Escolar Anglus Infantil; Unidade Escolar Irmã Mercês; Unidade Escolar Arco Íris; Unidade Escolar Padre Kleber; Colégio Integração, Colégio Projeção.
E chegamos aos dias atuais, onde observamos nas duas últimas décadas, e mais especificamente nos últimos anos, o crescimento do setor educacional em Piripiri, que já é uma cidade pólo na região em diversos setores, vem também se despontando no tocante ao ensino superior e profissionalizante. Através de sérias e sólidas instituições de cunho particular, estadual e federal.  A primeira representada pela Christus Faculdade do Piauí - Chrisfapi, oferecendo diversos cursos como administração de empresas, ciências contábeis, direito e enfermagem. Oferecendo uma possibilidade de ensino de qualidade em cursos que outrora só existiam na capital e em grandes cidades. Também já desponta na área de pós-graduação. A segunda citada é a Universidade Estadual do Piauí - UESPI, com sede própria, amplo auditório, hoje com corpo até com nível de doutorado, oferecendo diversos cursos de licenciatura, e de bacharelado em Direito. E por último, temos no ano de 2010 outro marco na educação em Piripiri, com a inauguração do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia - IFPI, oferecendo ensino de qualidade na área técnica.

A rede municipal também merece destaque através das significativas melhorias recebidas principalmente a partir do ano de 1998 quando consolidou-se o FUNDEF – e propiciou profundas melhorias em todo o sistema, desde estrutura a salário de professores. E do FUNDEB a partir de 2007. Atualmente (2010) a rede municipal está em parceria com o instituto Airton Senna de caráter nacional que é uma organização sem fins lucrativos que pesquisa e produz conhecimentos para melhorar a qualidade da educação. Também se prepara para o desafio do programa de inclusão escolar e da implantação da disciplina de História de Piripiri nas turmas do 7º ao 9º ano, que se tornou obrigatório a partir da lei 634/2009.
Somos cientes de que virão infinitas outras páginas a partir deste momento do centenário de Piripiri. Muitos são os atores de todo este processo. Mas sem dúvida alguma, o professor é fundamental! Estes, devem sempre levar em si as palavras da poetisa Cora-Coralina: “Feliz é aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”. Pois jamais deveremos esquecer que tudo que hoje colhemos e que ainda iremos colher, são os frutos das sementes plantadas pelo Padre Freitas, o precursor da arte do saber piripiriense. 

FONTE:
ROMANELLI, Otaíza O. História da Educação no Brasil (1930-1973). Petropólis: Vozes, 1997SANTOS, Boaventura S. Para uma Pedagogia do Conflito. In: ______, SILVA Azevedo (org.) Novos Mapas Culturais. Novas Perspectivas Educacionais Porto Alegre: Ed. Sulina, 1996SAVIANI, Demerval. A Nova Lei da Educação: Trajetórias, limites e perspectivas. Campinas, SP: Autores Associados, 1997.Santana, Judith.  O Padre Freitas de Piripiri. 1984.Melo, Cléa Rezende Neves de. Memórias de Piripiri. 2ª edição. 2001.

*Artigo vencedor do I concurso literário sobre a história da Educação de Piripiri - 2010
promovido pela ACALPI- SEDUC e GECULT. Que nos premiou com a "Comenda Mérito Educacional Padre Freitas"








sábado, 23 de fevereiro de 2013

CHICO DOS ROMANCES - SUA VIDA, SEUS CORDÉIS


Francisco Peres de Souza, mais conhecido como “Chico dos Romances”.
Conheça a história de vida deste nosso grande artista da arte da Literatura de cordel neste documentário que produzimos em 2008, como trabalho de pós graduação em História do Brasil. Idealizado pelos estudantes: Marco Matos,  José Hélder Freitas, Maura Fernanda Borges, Lucifrã Machado, Vanda Marcolino, Jesuíno Caxias, Queli Fabiana e Antônio de Pádua.



PARA VER O VÍDEO CLIQUE NO LINK ABAIXO:

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Da seção de curiosidades: FALTOU DINHEIRO MIÚDO NO COMÉRCIO EM PERIPERY – COMERCIANTES EMITEM VALES PARA SUPRIR A CARÊNCIA



Aconteceu na Vila de Peripery...
O sistema monetário do Brasil na transição do Império para a República foi marcado por intensa movimentação e tentativa de  organização.

Mesmo conseguindo uma relativa estabilidade econômica, D. Pedro II herdou da colônia e do primeiro reinado diversos problemas financeiros como diferentes moedas circulantes(algumas províncias tinham seus próprios sistemas monetários), falsificações, recolhimento e substituição de cédulas e outros mais. Isso teve repercussões diretas na economia de mercado. Um problema constante de falta de dinheiro miúdo para troco. 

Este fato incentivou particulares a emitirem moedas ou vales para suprir a devida carência. A Vila de Peripery também acompanhou esta moda. Em nossas pesquisas encontramos um documento que comprova este fato. Trata-se de um requerimento de um comerciante enviado ao presidente e aos membros do Conselho Municipal.
Vejamos abaixo a transcrição do documento de acordo com a grafia da época, e logo mais abaixo, a cópia do documento original de 1893.  

“José Gomes Rebello, comerciante, residente nesta Villa, em vista da falta absoluta de troco que existe geralmente e que tem trazido verdadeiras dificuldades, não só ao comércio como ao povo em geral d’este Município, vem respeitosamente pedir-vos que digneis conceder-lhe licença para assignar e distribuir vales na importância de cem mil reis, e estes circularem n’este município até que, pelo apparecimento de troco, sejam elles desnecessários e portanto recolhidos e inutilizados pelo requerente.
O requerente ofertou, caso seja por vós exigido, a quantia de cem mil reis, valor igual ao dos vales que pretende por em circulação, para ser depositado em garantia dos mesmos durante o tempo em que circularem, deixando de continuar o mesmo depositado, sendo restituída ao requerente a importância depositada, logo que o requerente nos comunique haver recolhido todos os vales.
                                                                Nestes termos.
                                                                   P. justiça
Peripery 19 de setembro de 1893
                                                        José Gomes Rabello"


quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Nota informativa



Gostaria de informar aos nossos nobres leitores que a nossa proposta neste informativo virtual é de divulgar nossas pesquisas sobre a História de Piripiri. Pois como informamos na apresentação do blog, já tivemos experiências anteriores em dois periódicos de nossa cidade: no jornal Visão, e no site vejapiripiri.com. Portanto, nossos artigos aqui, destinam-se tanto à reprodução de artigos já publicados, e remodelações destes, de acordo com novas pesquisas, quanto a novos artigos. E é isso que já temos mostrado até agora, e  faremos nos próximos escritos. Obrigado, e até o próximo artigo!

Professor Marco Matos

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Códigos de postura da povoação de Piripiri de 1870 - em busca de uma sociabilidade do urbano



O estudo da História algumas vezes, tem a impressão de ser algo desnecessário, cansativo ou perdido no tempo. Sem uma real função para o presente. Porém, quando compreendemos o porquê de se estudar a História ela torna-se realmente apaixonante. Mais interessante ainda é observar e compreender que toda esta dinâmica que hoje é a humanidade, é fruto de decisões tomadas pelo homem no passado.
Iremos aqui ilustrar este exemplo com um dos principais símbolos do homem em sociedade organizada: as leis, surgidas como um instrumento regulador da sociedade. Neste artigo iremos trabalhar algumas leis intituladas de código de postura municipal.
Desde o período colonial, as pequenas vilas e povoados foram assumindo aos poucos uma iniciativa própria de governabilidade, estabelecendo normas, e seguindo a padrões éticos. Portanto, as posturas tinham a função de impor uma “legalidade urbana” delimitando as fronteiras do poder.
Fruto do anseio público, as leis estabeleciam e ainda hoje estabelecem limites na convivência cotidiana entre habitantes de um lugar. Estas leis que analisaremos demonstram a mentalidade do poder público de determinados períodos quando as esferas urbanas estavam em formação, estabelecendo o que era permitido ou proibido.
A resolução nº 570, publicada a 25 de agosto de 1870, pelo Presidente da Provincia do Piauy, o Dr. Manoel Antônio Duarte de Azevedo, criou um Distrito de Paz na povoação de Piripiry (grafia do documento) vinculado ao termo de Piracuruca. Poucos dias depois, a câmara municipal de Piracuruca aprova, a 6 de setembro a resolução nº726 contendo as posturas municipais que iriam reger a Vila de Piracuruca e o povoado de Piripiri, objetivando uma melhor organização do espaço urbano.
 Observemos (com a grafia da época) alguns trechos da resolução n° 726 de seis de setembro de 1870:
Art. 1° Não se poderá edificar casas nesta villa, sem licença da câmara respectiva...sob pena de ser demolida a obra a custo do dono...e a multa de dez mil reis”.

                 Já neste primeiro trecho, nos deparamos com a forte regulação imposta pelo poder público, justificando-o como regulador da sociedade. 
 § único: É expressamente prohibido a edificação de casas de palha nas praças e ruas publicas desta villa e povoação de Piripiry, sob as penas acima estabelecidas”.

Nesta lei, já observamos uma preocupação com a estética urbana e com a saúde pública, uma vez que os casebres de palha, além de comprometerem a beleza urbana, também eram sinônimos de doenças segundo o discurso médico da época.
Também é bem nítido o esforço para o embelezamento, manutenção da saúde pública e melhor transito dos moradores no artigo 6º do mesmo decreto que estabelece:

 Ninguém poderá abrir barreiros, ou fazer outra qualquer escavação no recinto desta villa, e na povoação de Piripiry, e nem em outro qualquer lugar de transito público, sob a pena de dous mil reis de multa, e de entupir a escavação.”

Mas não somente as regras de organização do espaço urbano eram normatizadas por estas leis. As posturas municipais prescreviam desde as regras de convívio em sociedade para os seres humanos e até ao convívio com animais. O artigo 7° da resolução define que:
Depois das seis horas da tarde é prohybido correr a rédea solta; ou esquipar a cavalo nas ruas desta villa e povoado de Piripery, sob pena de multa de mil reis, e do dobro na reincidência, ou alias de cinco dias de prisão.”

O artigo 8° confirma a rigidez na criação de animais para uma melhor convivência com o ser humano:

É prohibido apascentar gado vaccum e cavallar dentro das praças desta villa, assim como peialos quer de noite quer de dia, sob pena de multa de mil réis por cabeça.

Mas para alguns existia uma pequena ressalva:

“§ Único: Os cavalos castrados e mullas podem ser peiados durante o dia, sem que por isso incorrão os seus donos nas penas deste artigo.

Nem mesmo os suínos e os caninos escapavam da normatização:

 “Art. 10. É prohibida a conservação de porcos e cães nesta villa e povoação do Piripiry, sob pena de serem mortos como melhor entender o fiscal”.

Em meados do século XIX, a questão da limpeza pública já era preocupação das autoridades:

 “Artigo 11. Não se poderá lançar immundicie nas ruas e praças desta villa e povoação do Piripiry. Os infratores pagarão a multa de mil reis, e são obrigados a fazer a limpeza a sua custa”.


 Percebe-se novamente, a questão da saúde pública através da preocupação junto aos consumidores de carne de animais:
 
Art. 17. Ninguém poderá vender carne verde ou secca sem que apresente ao repectivo fiscal documento que prove a propriedade da rez, sob pena de lhe ser prohybida a venda até a satisfação desta exigência, e não o fazendo afinal pagará a multa de dez mil reis, e o fiscal levará o facto ao conhecimeto do promotor publico da comarca, ou a qualquer autoridade criminal para ser investigado. Art. 18. A rez que tiver de ser talhada, e exposta ao consummo publico nesta villa e povoação do Piripiry, deverá ser morta na tarde do dia antecedente, e deverá ser salgada desoito horas depois de morta. Art. 19: “ Não se poderá talhar e expor ao consumo público aquella rez que tiver morrido de moléstia, ou qualquer incidente, e somente aquella que tiver sido morta de propósito para aquelle fim.Os infratores ficarão sujeitos a pena de quinze mil reis de multa e oito dias de prisão.”

O cumprimento ou não deste conjunto de leis, rotulavam o morador como “correto” ou como “errado” no ambiente urbano. Bebedeiras, e jogos de azar também fazem parte destes regulamentos para um melhor convívio em sociedade. Pois em função do estabelecimento do que era legal, e o que era ilegal, estas leis, inconsciente ou mesmo conscientemente convergiam para uma separação de grupos sociais: os “cidadãos de bem” por cumprirem o que o poder regulador impunha, sendo na maioria das vezes, pertencentes ao mesmo grupo dos que elaboravam as regras. E do outro lado, ou mais especificamente à margem, tínhamos o grupo “marginalizado” que deveria ser punido ou banido convívio social. 
Em uma sociedade regida por rígidos costumes familiares, algumas práticas como jogos de azar eram veementemente proibidos. É o que regia o artigo 12 da Resolução  nº 726 de 6 de setembro de 1870:
 “Todo aquelle que em sua casa admitir jogos prohibidos, ou forem encontrados jogando ou finalmente seduzir e jogar com filhos, famílias ou escravos, qualquer espécie de jogo, pagará a multa de dez mil reis, ou sofrerá oito dias de prisão, alem das demais penas criminaes e que possa incorrer.”

Mesmo sendo elaborada no século XIX, esta postura municipal já impunha uma tentativa de regular a utilização de armas de fogo:
Art. 14. É prohibido, sem licença da autoridade policial, dar-se tiros dentro desta vila e povoação do Piripiry, sob pena de multa de dous mil reis, ou três dias de prisão.”

Um dos artigos mais interessantes desta lei é o artigo 22 que estabelece que:
As pessoas que forem encontradas embriagadas nas praças e ruas desta villa e povoação do Piripiri serão multadas em dous mil reis e levadas por ordem do fiscal a presença de qualquer autoridade policial do lugar”.  

Neste trecho da lei fica bem evidente a distinção entre o público e o privado. Pois a prática da bebedeira, mesmo sendo característica de todos os grupos da sociedade, a elite restringia suas farras ao ambiente privado doméstico, enquanto para os “outros” sobrava geralmente o ambiente público. Incorrendo na maioria das vezes neste crime, a população de menos posse.

Mas a lei era bem clara:

Art. 30. Pelas disposições contidas nas presentes posturas são responsáveis os Paes por seus filhos, os amos por seus creados e os senhores por seus escravos”.

E também rígida:
Art. 32. Os infractores das presentes posturas que desacatarem ou injuriarem ao fiscal no cumprimento de seus deveres, incorrem na pena de prisão sem prejuízo d’aqueles em que possão incorrer, segundo as leis criminaes do império”.

Sem dúvidas, os Códigos de Postura devem ser analisados como uma tentativa de sociabilidade cotidiana ao longo do convívio de diversos grupos urbanos. Piripiri é um desses grupos, que também tem a sua rica história. História esta já contada por uns, mas pouco ensinada por outros. Louvada e pesquisada por poucos e indiferente a muitos. Desconhecida para tantos e infelizmente, preocupação de poucos.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Piripiri - Evolução história e formação política



Registra-se na Historiografia local o ano de 1844 como o marco cronológico inicial da História de Piripiri, com a chegada do Padre Domingos de Freitas e Silva. Vindo da Vila da Parnaíba, instalou-se provisoriamente nas terras da propriedade Gameleira, na freguesia de Piracuruca em meados dos anos 1830, antes de chegar à região chamada de data “Botica”, sesmaria doada a Antônio Fernandes de Macedo em 1777.
Chegando nestas terras, o Padre Freitas iniciou o seu aproveitamento através de uma fazenda para criação de gado que recebeu a nomeação de “Fazenda Piripiri”. Além da pecuária, as instalações da fazenda também desempenhavam as atividades de produção de farinha, e o do aproveitamento do engenho de cana para fabricar cachaça e rapadura.
Construída no mesmo período, sua “Casa da fazenda”, com amplas portas, janelas e acomodações, foi a primeira edificação deste lugar. Ao lado fora construída uma capela em homenagem a Nossa Senhora dos Remédios, onde o próprio fundador celebrou a missa inaugural. Estas duas, portanto, são as primeiras construções da história de Piripiri. Pelo menos até meados de 1855. Observamos este referido ano, como um momento estratégico para o crescimento populacional nessas terras: o Padre Freitas as dividiu em lotes e os doou a quem quisesse aqui edificar. Portanto, uma visionária iniciativa nos moldes de uma “reforma agrária”, segundo a escritora Cléa Rezende Neves de Melo.
No ano de 1857, já havia nestas terras um considerável número de moradores. Hoje não restam mais dúvidas sobre a pessoa que fundou Piripiri, apesar de que, “velhos troncos da família Medeiros e outros menos expressivos habitavam na região”, segundo a historiadora Judith Alves Santana, estes não tinham como finalidade a ampliação do lugar. Só observamos esta real iniciativa do desenvolvimento de um núcleo populacional a partir da chegada de Domingos de Freitas e Silva.
Um fato que nos chamou atenção fora que no ano de 1887, algo que podemos chamar de o "primeiro recenseamento de Piripiri" onde foram verificados a 8 de outubro:
"Existem dentro da décima setenta e quatro casas cobertas de telhas, uma Igreja Matriz de boa construção, uma Capela também de boa construção, um cemitério, uma casa que serve para as seções da Câmara e Jury e parte da mesma ocupada pelo Quartel de Cadeia, uma boa morada de casas que serve de Estação telegráfica e setenta e oito casas cobertas de palha". 

O processo de formação das cidades brasileiras, durante os primeiros séculos esteve fincado na tríade: povoado (distrito ou arraial), vila e cidade. Observemos a evolução política de Piripiri:
Data-se de 1860, em 25 de agosto, o primeiro título recebido por esta povoação, o título de Distrito de Paz, neste mesmo ano é iniciado o processo educacional neste lugar, onde o sacerdote abre uma escola de primeiras letras e outra de latin regidas por ele próprio, tendo como alguns de seus discentes: Simplício Coelho de Rezende e Tomáz Rebello, outros notórios nomes que jamais poderão ser apagados da memória piripiriense. Nesse mesmo período Judith Santana registra que algumas fazendas circundavam a povoação, entre elas destacaram-se: Fazenda Gameleira, Casa do Desterro, Casa do Curral de Pedras, Casa da Caiçara, Casa do Piripiri do Corrente e Casa da Residência.  
A Lei provincial n° 689, de 16 de agosto de 1870, eleva o distrito à categoria de paróquia, ligado civilmente a Piracuruca. (falaremos sobre a lei regulamentadora no próximo artigo: Códigos de Postura – Sociabilidade do urbano)
No ano de 1874 já éramos vila, através da lei 849, de 16 de junho do referido ano. Onde a oficialização deste ato se deu a 18 de setembro, onde mais tarde nomearia uma das principais ruas da cidade. 
Revendo os autos da inauguração desta vila, alguns fatos nos chamaram atenção e valem serem aqui citados:
 “Esta lei só terá execução depois que houver quem ofereça grátis por espaço de oito anos uma casa com as comodidades precisas para funcionar a Câmara Municipal e o juiz também suficiente divisão para Juizado.”

Comovidos por esta obrigatoriedade, outros dois ilustres piripirienses se encarregaram da tal doação, não só do prédio, como também de toda mobília necessária para o seu funcionamento eram eles: Antônio Albino de Araújo e Silva juntamente com Estêvão Rabelo de Araújo e Silva, hoje também nomes de ruas de nossa cidade.
Em 1875, com a devida estrutura, são iniciadas as atividades da Câmara Municipal, datando em 14 de janeiro, onde coube a Antônio Alves de Oliveira Lopes, o título político de primeiro administrador oficial da nova Vila. Lembremos neste momento que ainda éramos regidos pelas leis imperiais, onde as câmaras municipais exerciam um número de funções muito maior do que atualmente.
O próximo título que faltava seria o de Cidade politicamente autônoma, fato que ocorreu em 1910. Porém, este fato merece um artigo especial, que falaremos em outro momento.