"Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem
ela, tampouco, a sociedade muda" afirmou o pedagogo Paulo
Freire. Traçando um paralelo com a ciência Histórica, e reconhecendo que é “impossível saber para onde vamos se não
sabemos de onde viemos”, iremos nestas páginas fazer um relato da história
da educação cidade de Piripiri em homenagem a seu centenário de administração
política. Onde reconheceremos a importância da primeira escola para a
compreensão do vasto sistema educacional do presente.
Para se falar deste tema, é impossível não
traçarmos um paralelo com a história do Brasil e do Piauí, já que estes, são
agentes diretos deste processo.
A Primeira página da
História da Educação de Piripiri pode ser honrosamente comparada aos primeiros
passos da educação brasileira, onde o próprio fundador do núcleo urbano, o Padre Domingos de Freitas e Silva, já demonstrando
seus interesses de desenvolvimento no que se tornaria hoje uma das mais
importantes cidades do Estado, funda em 1857, na capela por ele edificada, a
gênese do saber piripiriense, através de cadeiras já lecionadas por ele na Vila
da Parnaíba: aulas de primeiras letras,
disciplina implantada desde o Brasil colonial durante a fase da educação dos
jesuítas com função elementar de ler e escrever e também de divulgadora da fé
católica, mas só estendida a todas as cidades e lugarejos através de uma lei
imperial de 1827. A outra disciplina também lecionada era a cadeira de latim, que fora implantada já na era educacional
do Marquês de Pombal, um período de transição na educação do Brasil, pois
depois da expulsão dos Jesuítas, o ensino caracterizou-se por uma substituição
dos interesses da fé para uma escola útil para o Estado. Podemos destacar como
seus primeiros discentes alguns honrosos nomes da História de Piripiri como os
de Thomaz Rebello e Simplício Coelho de
Rezende.
Entre ensino público e privado, já poderemos
fazer reflexões desde os tempos do Brasil Império e do Piauí província no ano
de 1845 quando o então presidente da Província do Piauí, Zacarias de Góes, através da lei provincial nº 198 lança o marco
fundamental da educação pública no Piauí com a normatização do ensino público
ganhando uma estrutura organizacional. Enquanto isso, no ainda Distrito de
Peripery, no ano de 1868, falece o fundador, assumindo suas funções seu aluno, o
professor Antônio Lopes Castelo Branco,
fundando no ano seguinte o Colégio São
José, particular.
O ano de 1870
é marcado na educação piripiriense, com a fundação da Escola Primária da Paróquia sob os auspícios do professor e músico Manoel Pedro de Souza Bem, criada pela
lei nº 692 de 3 de agosto, contando com 45 alunos.
No limiar do século XX, onde a educação ainda
era rígida e patriarcal, seguindo os modelos educacionais implantados pelo
império, com a preocupação de formação de uma elite dirigente, o próprio ensino
se diferenciava para meninos e meninas, onde se acreditava que ler e escrever
eram tarefas só para os homens e as mulheres só precisavam aprender os afazeres
domésticos, como técnicas de costura, renda e boa moral em sua residência, encontramos
nos respectivos anos de 1877 e 1880
a nomeação do que pelo menos até o momento seja das
primeiras educadoras de Piripiri, são elas Raimunda
Medes da Rocha, professora subvencionada, e Mariana Francisca de Menezes, contratada pelo governo da província,
e Francisca Ribeiro Soares da Costa é
nomeada professora primária.
Diversos
fatos marcaram o Brasil, Piauí e Piripiri, na transição do século XIX para o
século XX, como por exemplo, a proclamação da república, que teve seus reflexos
na educação através do modelo republicano de ensino, com uma aparente negação
do modelo elitista imperial, cujo saldo foi quantia de cerca de 60% da
população do Brasil analfabeta. A república iniciou um gradativo processo de
melhoramento na educação do Brasil através da intensificação de debates a cerca
sobre a gratuidade e obrigatoriedade do ensino de primeiro grau e direito de
todos à educação e liberdade de ensino. É neste clima que registramos mais uma
página da educação na ainda Vila de Periperi, no ano de 1908 com a fundação do Instituto Arco Verde de liderança do Padre Bezerra de Menezes, que chegou em
nossas terras em 1903, e também de duas grandes figuras que hoje nomeiam respectivamente
uma escola estadual, uma biblioteca e rua na Piripiri de hoje. São: eles Arimathéa Tito e Lolô Freitas.
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Instituto Arcoverde. (foto: Fabiano Melo) |
O ano de 1910
é considerado um marco na nossa história, pois foi neste ano que a Vila de
Periperi, adquiriu o título de cidade. Com este título nasce agora uma
estrutura administrativa autônoma e reguladora do ser comum citadino, agora
dotada de uma autonomia executiva, livre de outras dominações. No ano de 1913,
temos a fundação do Colégio Castelo,
fundado pelo professor Álvaro Alves Ferreira,
grande intelectual piripiriense, dentre suas diversas funções vale destacar sua
cadeira de nº 26 da Academia Piauiense de
Letras, e do professor Felismino de
Freitas Weser, aluno do Instituto
Arcoverde, fundador e diretor de várias instituições na capital do Estado.
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(foto: Fabiano Melo) |
Vale destacar
que nos primeiros anos da República, se intensificaram as idéias de legitimação
da nação brasileira, através da pátria, onde no ano de 1924 temos a instalação
das Escolas Reunidas Padre Freitas,
com destaque para a sua primeira diretora a professora Sinhá Carvalho, hoje nome de uma escola da rede Estadual. Mas
somente no dia 15 de novembro de 1943, aniversário da proclamação da República,
é que temos a solene inauguração do Grupo
escolar Padre Freitas com a presença do Interventor Landri Sales e sua comitiva. Neste momento, vale lembrar que em
1932 é lançado o Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, defendendo novas
idéias exaltando a educação como instrumento de reconstrução nacional e a
adaptando a características regionais e aos interesses dos alunos, bem como
propondo uma formação universitária a todos os professores.
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(foto: Fabiano Melo) |
É inegável a
participação do eclesiástico no processo educacional de Piripiri. Outro grande
nome que é digno de ser lembrado pela constante preocupação pela educação é do Padre Raul Formiga, que também nomeia um
educandário na rede municipal. Assumiu seus trabalhos paroquiais em 26 de
agosto de 1941. Segundo a historiadora Judith Santana em sua obra Piripiri “seguia a linha direta do fundador da cidade: pensava na educação da
criança e do jovem. E no dia 2 de março de 1942 implantava o marco inicial de
mais uma escola da Paróquia. Começando com um curso primário, posteriormente
criaria a Escola Normal Rural de Piripiri, com a colaboração das professoras
Risete Cabral e Amália Nunes”. A historiadora Cléa Resende Neves através de
depoimento oral também lembra que Padre Raul “educou toda uma geração com música clássica, através das amplificadoras
da igreja matriz”.
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No mesmo ano
de 1942 também é inaugurado oficialmente o Grupo Escolar
Cassiana Rocha que recebeu
este nome em homenagem a D. Cassiana Pires Rebelo da Rocha, filha do Cel. Tomaz
Rebelo e D. Lina Cassiana Rebelo. Casou-se com José Narciso da Rocha Filho, que
depois de sua morte prematura, decidiu homenageá-la, construindo com dinheiro
que ela deixara, este estabelecimento de ensino que teve como primeira diretora
D. Alda Rocha. (a data de 1940 refere-se a fundação, e 1942 a da inauguração oficial)
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Cassiana Rocha (foto: arquivo da escola) |
No ano seguinte, em 1945 é fundado o Círculo Operário.
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(foto: Fabiano Melo) |
Não poderiam
ficar de fora dessas páginas da educação de Piripiri a inesquecível
participação das irmãs de caridade na cidade, onde as pioneiras foram Irmã Eulália Timbó, Irmã Mariana de
Albuquerque Mendes e a Irmã Helena Silva, aqui chegadas no ano de 1947. Sob
a direção da primeira, a Escola Paroquial
Primária e a Escola Normal Rural
seguia seus rumos, abraçando a causa dos pobres e ministrando educação gratuita
de moral, religiosidade, vida social, cívica e doméstica.Foram instaladas pela Ir. Fiúsa. Destaque na solenidade de inauguração para uma interessante "Hora de Arte" realizada por alunas e mestras auxiliares no Salão Paroquial segundo Juditn Santana. Lembrando que a nível
nacional o sistema educacional ainda estava vivendo sob a influência doe
educação pregada pelo Estado Novo, onde por exemplo, o ensino
profissional,industrial, comercial e agrícola sofreram uma regulamentação
nacional atendendo aos interesses dos trabalhadores.
Na
continuidade destas pegadas indeléveis das irmãs de Caridade na educação de
Piripiri podemos citar no ano de 1948 a fundação do Patronato Santa Catarina Labouré, e a formação da Escola Normal Rural Regional Sagrado Coração
de Jesus, em 1952, com a função de formar educadores do ensino primário.
Também é oportuno lembrar a preocupação com adultos com a formação da Escola Noturna Aderson Alves Ferreira, e
a escola Normal São José, em 1996.
A cidade de
Piripiri é contemplada no ano de 1960 com a criação do Ginásio José Narciso da Rocha Filho, por iniciativa do então
prefeito Aderson Alves Ferreira, sob
a batuta do magnífico professor Omar de
Andrade Rezende, que por merecimento honroso também tem uma escola em seu
nome. Digna de aplausos e de exaltação para a posteridade foi a “Oração Sapientae” proferida pelo grande
professor Álvaro Ferreira onde vale
lembrar aqui um trecho de seu documento: “[...]Este ginásio, portanto, tem uma razão de ser. Ele faz pare da
contribuição que Piripiri irá fornecer à civilização contemporânea, na pessoa
dos jovens que, aqui, receberão as luzes do saber[...]”. Sem dúvida alguma
esta instituição de ensino merece uma página de destaque nessa História da
Educação piripiriense, pois realmente estas palavras proferidas pelo professor
Álvaro, se tornaram profecias no momento que os primeiros frutos passaram a ser
colhidos, a partir da colação de grau da turma pioneira “Professor Omar Rezende” em 1964:
Esta escola formou diversas personalidades
que figuram na História de diversos setores de nossa cidade.
Abrindo uma ponte
com o presente, é digno de exaltação a participação do diretor José Ribanar da Silva, primeiramente com
seu trabalho humano com os discentes, com uma constante preocupação com a
formação intelectual, emocional e pessoal de seus discentes, onde o reconhecido
por seu trabalho lhe renderam premiações de gestão a nível nacional, com seu
trabalho reconhecido e publicado na revista TV escola de outubro de 2002, com o
título: “Em Piripiri –Pi Ensino Público
de qualidade”. Nos dias atuais o educandário proferido pelo professor Álvaro Ferreira é dirigida pela também competente Professora Inez Maria e continua sendo destaque
entre as primeiras escolas públicas do Estado do Piauí, preparando cidadãos, e
colocando-os nas mais diversas faculdades do Estado.
Ainda no ano
de 1962 diploma-se a Turma Irmã Luiza
Sena no colégio São José a primeira turma do Curso Pedagógico, lançando
novos profissionais na área da educação piripiriense.
Chegamos à
década de 1960 onde o Brasil foi sacudido pelo sistema político das ditaduras
militares, no campo da educação, verificou-se uma Política
educacional voltada à tendência tecnicista partindo do pressuposto da
neutralidade científica, inspirada nos princípios de racionalidade, eficiência
e produtividade, a preocupação da escola com a eficácia e a eficiência do
ensino transforma os conteúdos em técnicas de planejamento, de ensino,
materiais instrucionais. A imagem que este governo tentava repassar a população
era de um relativo crescimento, mesmo com tantos atos obscuros de repressão às
oposições, na área educativa teve um papel importante. Porém, a cidade de
Piripiri ainda mantinha resquícios da educação pregada na República Populista,
onde tivemos a primeira Lei das Diretrizes Bases da Educação Nacional, através
da lei 4.024/6, onde vale lembrar a ênfase às campanhas de educação de adultos
e movimentos de educação de base e o programa nacional de alfabetização. No dia 26 de setembro de 1964 a cidade teve a
visita do então secretário da Educação e Cultura do Estado José de Arimathéa Tito Filho, inaugurando as escolas: Arimatéa Tito, onde no momento
pronunciou um eloqüente discurso em reconhecimento a este notório educador em
Piripiri e o Grupo Escolar João Coelho de
Rezende.
A
União Caixeiral, uma associação de prestação de serviços sociais da indústria e
comércio, fundada em 1932, também escreveu nas páginas da educação em Piripiri,
fundando em 1968, com iniciativa de João Evangelista de Melo uma Escola de
Comércio.
A
partir da década de 1970, observamos na política do Brasil, uma abertura
gradual do processo democrático. Na educação percebemos uma contestação ao
caráter tecnicista. Mas na área da edificação de escolas, devido ao constante
progresso que a cidade já se encontrava, e existindo a conseqüente necessidade
de novos educandários nesta década e na posterior, a de 80, a cidade é
contemplada com a construção e inauguração de diversas escolas, sempre com
nomes em homenagens a relevantes vultos da educação em nossa cidade, podemos
citar: Escola paroquial Frei Jordão, Escola Técnica de Comércio Professor Álvaro
Ferreira, Unidade Escolar Desembargador José de Arimathéa Tito e João Coelho de Rezende, já citadas; Unidade Escolar Cota Sampaio, Unidade
Escolar Nenen Cavalcante, Unidade Escolar Auri Castelo Branco, Unidade Escolar
Aderson Alves Ferreira, Unidade Escolar Deputado Monteiro Alves, Unidade
Escolar Sinhá Carvalho, Unidade Escolar Embaixador Espedito Rezende, Unidade
Escolar Baurélio Mangabeira e Unidade Escolar Judith Santana, estas de
cunho estadual.
Também
não pode ser esquecida destas páginas, a ação do Movimento Brasileiro de
Alfabetização, o MOBRAL, propondo a alfabetização funcional de jovens e
adultos. Em Piripiri, sob a liderança e os olhares constantes da inesquecível
figura do Professor Antônio Neto.
Nas
últimas décadas, se intensificaram os educandários particulares que deram e
ainda hoje oferecem educação. Desde o colégio São
José, já citado, aos dias atuais, diversos foram os educandários merecem
destaque nas páginas da Educação de Piripiri: Escola Pinguinho de Gente, hoje Colégio Maria José, uma brilhante educadora, que através de seu “método das sete semanas” ensinou muitos
piripirienses as primeiras letras; Escola
Frei Francisco, Unidade Escolar Prisma Ltda, idealizada pela pessoa
brilhante de Zélia da Cruz Castro Bezerra
de Melo, nossa “Tia Zélia”; Unidade Escolar Christus, fundada pelo
casal Antônio e Zuíla Rezende, hoje
administrada pela competente professora Maria
do Carmo; Unidade Escolar Anglus
Infantil; Unidade Escolar Irmã
Mercês; Unidade Escolar Arco Íris; Unidade Escolar Padre Kleber; Colégio Integração, Colégio Projeção.
E
chegamos aos dias atuais, onde observamos nas duas últimas décadas, e mais
especificamente nos últimos anos, o crescimento do setor educacional em
Piripiri, que já é uma cidade pólo na região em diversos setores, vem também se
despontando no tocante ao ensino superior e profissionalizante. Através de
sérias e sólidas instituições de cunho particular, estadual e federal. A primeira representada pela Christus Faculdade do Piauí - Chrisfapi,
oferecendo diversos cursos como administração de empresas, ciências contábeis,
direito e enfermagem. Oferecendo uma possibilidade de ensino de qualidade em
cursos que outrora só existiam na capital e em grandes cidades. Também já
desponta na área de pós-graduação. A segunda citada é a Universidade Estadual do Piauí - UESPI, com sede própria, amplo auditório, hoje com corpo até com
nível de doutorado, oferecendo diversos cursos de licenciatura, e de
bacharelado em Direito. E por último, temos no ano de 2010 outro marco na
educação em Piripiri, com a inauguração do Instituto Federal de Educação
Ciência e Tecnologia - IFPI, oferecendo ensino de qualidade na área técnica.
A
rede municipal também merece destaque através das significativas melhorias
recebidas principalmente a partir do ano de 1998 quando consolidou-se o FUNDEF –
e propiciou profundas melhorias em todo o sistema, desde estrutura a salário de
professores. E do FUNDEB a partir de 2007. Atualmente (2010) a rede municipal
está em parceria com o instituto Airton Senna de caráter nacional que é uma
organização sem fins lucrativos que pesquisa e produz conhecimentos para
melhorar a qualidade da educação. Também se prepara para o desafio do programa
de inclusão escolar e da implantação da disciplina de História de Piripiri nas
turmas do 7º ao 9º ano, que se tornou obrigatório a partir da lei 634/2009.
Somos
cientes de que virão infinitas outras páginas a partir deste momento do
centenário de Piripiri. Muitos são os atores de todo este processo. Mas sem
dúvida alguma, o professor é fundamental! Estes, devem sempre levar em si as
palavras da poetisa Cora-Coralina: “Feliz
é aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”. Pois jamais deveremos esquecer que tudo que
hoje colhemos e que ainda iremos colher, são os frutos das sementes plantadas pelo Padre Freitas, o precursor da arte do
saber piripiriense.
FONTE:
ROMANELLI, Otaíza O. História da Educação no Brasil (1930-1973). Petropólis: Vozes, 1997SANTOS, Boaventura S. Para uma Pedagogia do Conflito. In: ______, SILVA Azevedo (org.) Novos Mapas Culturais. Novas Perspectivas Educacionais Porto Alegre: Ed. Sulina, 1996SAVIANI, Demerval. A Nova Lei da Educação: Trajetórias, limites e perspectivas. Campinas, SP: Autores Associados, 1997.Santana, Judith. O Padre Freitas de Piripiri. 1984.Melo, Cléa Rezende Neves de. Memórias de Piripiri. 2ª edição. 2001.
*Artigo vencedor do I concurso literário sobre a história da Educação de Piripiri - 2010
promovido pela ACALPI- SEDUC e GECULT. Que nos premiou com a "Comenda Mérito Educacional Padre Freitas".